sábado, 1 de junho de 2013

USO.

No começo éramos inseparáveis.
Mandávamos mensagens o tempo todo, conversávamos com varias pessoas juntos.
Me lembro que íamos em varias festas, no cinema, e vários lugares, sempre estávamos juntos.
Teve uma vez que nos perdemos em uma festa, fiquei dois dias sem vê-lo, até que ele voltou. Nosso reencontro naquele dia foi um dos momentos mais lindos que tivemos.
Enfim, com o tempo muita coisa começou a mudar. Fui ficando mais de lado, sempre que queria falar com alguém ele ia pro computador, não falava mais comigo, me ignorava.
Nossos amigos em comum também haviam sumido, não recebia mais nenhuma mensagem deles.
Sempre que ele ia a algum lugar, não me levava mais. Ao poucos parecia me excluir da vida dele.
O momento de maior tristeza da minha existência, foi quando ele chegou em casa um dia com aquela caixa na mão. Eu estava na cadeira ao lado da cômoda. Ele nem me olhou, se sentou na cama e abriu a caixa, um sorriso no rosto.
Ele olhou em volta como se procura-se por algo. Eu estava com fome então meu interior roncou, foi ai que ele veio em minha direção. Me pegou na mão e eu fiquei feliz, mas então ele tirou minha bateria.
Quando liguei novamente, percebi que estava sem meu chip. Continuava com fome, minha energia estava se acabando. Olhei e ele estava na cama, à caixa ao seu lado, estava vazia. Foi então que vi sua mão, ele continuava sorrindo.
Hoje estou em uma caixa velha de sapato, junto com outras coisas que ele não quis mais. Vivo com minha luz apagada, pois sei que se liga-la minha bateria pode acabar. Às vezes penso que seria melhor, assim dormiria para sempre, e não lembraria todos os dias das ultimas palavras que ouvi meu dono dizer.

“– Mãe! Comprei um celular novo!”


Juarez Oliveira

22 – 23

Quando se é um bebê, tudo é simples. Um bebê não se preocupa com nada, não tem responsabilidades, é inocente ainda.
Quando se é uma criança, brincar é sua maior tarefa. Mas começa o aprendizado para o crescimento.
Quando se é adolescente, muita coisa muda, as tarefas são outras, as responsabilidades surgem. Ser adolescente não é tão fácil como foi ser um bebê e uma criança. Você começa a pensar no futuro, no que vai ser, começa a ser o que quer ser, e às vezes não é fácil se achar.
Hoje tenho 22 anos, daqui a pouco farei 23. E sabe o que me tornei?
Pois é. Eu não sei.
Quando criança queremos crescer, quando adultos queremos voltar a infância.
Passei muito tempo querendo fazer 18 anos. Pensava que o fato de ter 18 anos, me faria poder sair, conhecer pessoas, lugares, e me descobrir.
O fato é que me sinto mais perdido do que quando tinha 10 anos. Meus sonhos não foram alcançados. Conheci varias pessoas, vários lugares, e ainda assim só me perdi mais de mim mesmo.
Ganhei, perdi.
Se pudesse voltar no tempo, faria muita coisa diferente. Arrependo-me de muita coisa que não fiz.
Aos 22, sei o que não quero ser. Espero que nos 23 encontre a mim mesmo.


Juarez Oliveira de Carvalho